Artistas que fizeram a Semana de Arte Moderna
Em fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São
Paulo foi palco de alguns artistas como: Anita Malfatti, Di Cavalcante,
Brecheret, entre outros grandes nomes que revolucionaram o que estava sendo
feito no mundo das artes até então, tornando um dos períodos mais importantes
para o despertar de novas formas de se fazer arte no país - A Semana de Arte
Moderna. Vamos saber mais sobre alguns
desses criadores da Semana 22.
Anita Malfatti (1889-1964)
Anita Malfatti e a sua
obra A boba (1916)
Anita
Catarina Malfatti, esse era o nome de batismo da artista plástica paulista que
nasceu no dia 2 de dezembro de 1889. Anita foi uma brasileira com origens europeias: seu pai (Samuel
Malfatti) era um engenheiro italiano e a mãe (Betty Krug) era uma
norte-americana com descendência alemã. Foi provavelmente da mãe que Anita
herdou o gosto pelas artes uma vez que Betty dava aulas de pintura e
línguas. Com um histórico de depressões, Anita tentou se suicidar quando tinha
apenas treze anos, o plano foi se colocar debaixo da linha do trem. Apesar
do susto, nada aconteceu com a pintora. Aos dezenove anos, Anita tornou-se
professora e logo depois foi estudar na Alemanha. A jovem também chegou a estudar
em Nova Iorque. De volta ao Brasil, Anita continuou pintando e, incentivada por
alguns amigos, participou da Semana de Arte Moderna de 1922. A partir de então,
a sua carreira decolou de vez, tendo Anita exposto em Berlim, Nova Iorque e
Paris. Além de ser celebrada no próprio país, a artista teve a sorte de
receber em vida reconhecimento internacional. Entre as suas
telas mais famosas estão: A
Boba (1916), O
Homem Amarelo (1916) e Mário
de Andrade I (1922).
Mário de Andrade (1893-1945)
Pioneiro, Mário de Andrade
foi autor do livro de poemas Pauliceia
Desvairada, inaugural da primeira fase do Modernismo.
Além de escrever ficção, o
intelectual também foi crítico de arte em jornais e revistas. Polivalente,
amante da música, Mário chegou igualmente a dar aulas particulares de
piano. Em termos literários, a sua maior criação foi provavelmente o
romance Macunaíma (1928),
que chegou a ser mais tarde adaptado para o cinema. Já nessa produção, vemos
uma característica fundamental do autor: Mário procurava uma linguagem
nacional, queria conhecer a fundo a cultura de cada região do país e valorizar
a nossa terra. Não à toa, ele empreendeu uma série de viagens pelo Brasil, a
investigação fazia parte do seu projeto nacionalista. Um dos maiores
articuladores do Modernismo, Mário participou ativamente da Semana de
Arte Moderna.
Oswald de Andrade (1890-1954)
A vida de Oswald
era definitivamente uma agitação: foi militante político, ajudou a criar
manifestos, vivia cercado de amigos, tinha uma personalidade divertida e
irônica. Filho único, desde cedo soube que seria escritor porque um
professor do Ginásio de São Bento assim o disse. E não é que o tal professor
tinha razão? Sua
porta de entrada no jornalismo foi no Diário Popular, onde começou a escrever
em 1909. Logo depois, virou crítico teatral e fundou uma revista. Em 1912, a
vida do escritor virou de ponta-cabeça depois de uma ida à Europa. Entusiasmado
com o que viu, Oswald trouxe na mala ideias que vieram a tomar corpo nos seus
Manifestos. Entre os seus trabalhos o mais famoso certamente foi o Manifesto Pau-Brasil (1924).
Muito próximo de diversos artistas, Oswald foi um dos agitadores que esteve a
frente da organização da Semana de Arte Moderna. Oswald foi casado com a
pintora Tarsila do Amaral. Casamento realizado em 1926 e durou cerca de três
anos.
Graça Aranha (1868-1931)
Sabia que foi Graça
Aranha o responsável pelo discurso inaugural da Semana de Arte Moderna? Já consagrado,
especialmente pela publicação do seu romance Canaã (1902),
esse nome hoje em dia praticamente desconhecido do grande público era bastante
reconhecido naquela época. Graça Aranha era figurinha conhecida entre os
pares. Filho de uma família abastada, o rapaz se formou em Direito, foi
juiz e diplomata. O escritor também foi logo cedo eleito membro da Academia
Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 38. Devido a sua
carreira no Itamaraty, Graça Aranha viveu em uma série de países como Itália,
França, Holanda, Suíça e Inglaterra. Somente em 1920 regressou ao Brasil, justo
a tempo de participar do movimento artístico que culminou na Semana de Arte
Moderna.
Victor Brecheret (1894-1955)
Victor Brecheret e o Monumento às
Bandeiras, de sua autoria
Quem é amante
de escultura provavelmente é fã de carteirinha de Victor
Brecheret. Esse escultor nascido na Itália foi responsável pela introdução da
arte moderna na escultura brasileira. Provavelmente você está se perguntando: e
como Ítalo veio parar no Brasil? Órfão de mãe aos dez anos de idade, o garoto
foi criado pelo tio Enrico Nanni, que migrou para o Brasil e trouxe o sobrinho
com ele. Aos 18 anos, o escultor entrou no Liceu de Artes e Ofício. Encantado
com a arte da escultura, logo no ano a seguir foi para Roma aprofundar as
técnicas. Lá esteve durante cinco anos, até 1919, quando retornou para o Brasil
e montou o seu próprio ateliê. Muito amigo de Di Cavalcanti, Mário de Andrade,
Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, Victor participou da Semana de Arte
Moderna mesmo estando fisicamente distante. Na ocasião do evento, o
escultor estava vivendo em Paris, mas ainda assim, fascinado com o projeto dos
amigos, decidiu participar enviando vinte esculturas que foram
dispostas no saguão e nos corredores do Teatro Municipal de São Paulo. Um dos
seus mais famosos trabalhos foi o Monumentos às Bandeiras, situado
no Parque do Ibirapuera (São Paulo).
Plínio Salgado (1895-1975)
Além de escritor, Plínio Salgado foi
também jornalista e sobretudo político. Seu nome, aliás, é mais famoso no
universo da política porque Plínio fundou, em 1932, um movimento político
inspirado no fascismo italiano (tratava-se da Ação Integralista Brasileira). O
lema do grupo era "Deus, Pátria e Família". A herança militar
possivelmente veio de família, uma vez que o seu pai, Francisco das Chagas
Salgado, era coronel. Ao
longo da sua carreira, Plínio escreveu uma série de reportagens sobre o governo
(por vezes a favor, por vezes contra) e usava o veículo do jornal para se
manifestar politicamente. A improvável relação com o grupo criador da Semana
de Arte Moderna surgiu a partir do contato que Plínio teve com Menotti del
Picchia. Em 1920, Plínio começou a trabalhar no jornal Correio Paulistano,
que naquela época tinha Menotti como redator-chefe.
A sua participação na Semana de Arte
Moderna foi bastante discreta. Dois anos mais tarde, o político veio a aderir
ao Movimento Verde-Amarelo, que era veemente contra o Movimento Pau-Brasil.
Menotti Del Picchia (1892-1988)
"Com esse nome, provavelmente o
artista nem deve ser brasileiro", é o que você deve estar pensando. Pois
muito se engana!
Menotti foi filho de imigrantes
italianos, mas nasceu aqui, em São Paulo. Escritor, jornalista, advogado,
tabelião e político, Menotti ficou famoso especialmente pelas inovações que
promoveu nos seus trabalhos a nível da linguagem. Um dos responsáveis pela
Semana de Arte Moderna, o intelectual abriu a segunda noite do evento. Dois
anos mais tarde, ao lado de Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano
Ricardo, o grupo criou o Movimento Verde e Amarelo como uma resposta a postura
nacionalista propagada principalmente pelo intelectual Oswald de
Andrade. Menotti ocupou a partir de 1943 a cadeira número 28 da
Academia Brasileira de Letras. Seu trabalho mais famoso provavelmente foi Juca
Mulato (1917).
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
Poeta, jornalista, tradutor e
advogado - esse foi Guilherme de Almeida. O interesse pelas leis foi
transmitido pelo pai, que era jurista e professor de Direito. Já depois de
formado, no entanto, Guilherme enveredou pelo jornalismo literário tendo sido
redator do Estado de São Paulo e do Diário de São Paulo. Ele também chegou a
dirigir a Folha da Manhã e da Noite. Lançado em 1917, Nós foi
o seu primeiro livro de poesia. Apesar de ter integrado o grupo que participou
da Semana de Arte Moderna, Guilherme não era propriamente um entusiasta do
modernismo. Devido aos seus ideais políticos (Guilherme participou da Revolução
Constitucionalista de São Paulo), viu-se obrigado a sair do país e esteve
longos anos exilado na Europa. Guilherme ocupou a cadeira número 15 da
Academia Brasileira de Letras (aliás, foi o primeiro modernista a frequentar
propriamente a Academia). Um intelectual de mão cheia, o pensador era tido como
um grande tradutor e dominava grego e latim, para além de conhecer
profundamente a cultura renascentista.
Heitor Villa-Lobos
(1887-1959)
Único nome dessa
lista representante do universo da música, Heitor Villa-Lobos é talvez o maior
maestro e compositor erudito que o nosso país já teve.
Carioca da gema, Heitor nasceu filho de um músico amador e foi desde cedo
estimulado a tocar. Apesar de ter sido autodidata ao longo da vida, foi com o
pai que Heitor aprendeu a dominar violão e violoncelo. Depois veio o
clarinete, o saxofone e o piano. Heitor experimentou de tudo e começou a compor
quando tinha apenas seis anos. Foi em 1907, aos vinte, que criou Os
Cantos Sertanejos, uma composição para uma pequena orquestra. Villa-Lobos
se sustentava tocando em teatros e cinemas no Rio de Janeiro, tendo mais tarde
vindo a realizar alguns recitais apenas com obras de sua autoria. Quando
se apresentou na Semana de Arte Moderna (de casaca e chinelo, consegue imaginar
o figurino?), o compositor foi vaiado porque apresentou uma composição que
mesclava ritmos folclóricos com música erudita. Apesar de ter sido constrangedor,
a verdade é que a apresentação ajudou a projetar Heitor internacionalmente. O
próprio compositor achava que era mais reconhecido fora do país do que dentro
dele. Heitor Villa-Lobos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela
Universidade de Nova Iorque. Foi também o fundador e primeiro presidente da
Academia Brasileira de Música.
Di Cavalcanti
(1897-1976)
Di Cavalcanti foi o autor da capa
do catálogo da Semana de Arte Moderna
Um dos maiores pintores do país, Di Cavalcanti (que nasceu Emiliano
Augusto Cavalcanti de Albuquerque) gostava de representar temas tipicamente
brasileiros como as mulatas, as favelas, o samba e o carnaval. Muito
próximo de Manuel
Bandeira, em 1919 Di Cavalcanti ilustrou o seu livro Carnaval. O
moço gostou tanto do trabalho que mais tarde também ilustrou algumas obras
de Vinicius
de Moraes e Jorge
Amado. Na Semana de Arte
Moderna, além de apresentar onze telas no hall do Teatro, Di Cavalcanti foi
responsável por criar a capa do catálogo. O talentoso jovem fundou, em 1932, o
clube dos Artistas Modernos ao lado dos amigos Antônio Gomide, Carlos Prado e
Flávio de Carvalho. Em termos políticos foi filiado ao Partido Comunista
Brasileiro e, devido à sua ideologia, foi perseguido pelo governo Vargas tendo
mudado para a Europa. Di Cavalcanti apresentou as suas telas em Paris, Londres,
Bruxelas e Amsterdam.
(Texto baseado nas informações de Rebeca
Fuks)
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